A Microsoft já não precisa tanto do Windows
Sistema operacional responde por apenas 10% do lucro da companhia, o que faz os executivos da empresa reverem suas projeções de futuro
Steven J. Vaughan-Nichols
Publicada em 08 de março de 2016 na newsletter CIO da Computerworld
Quando você pensa na Microsoft, qual é o primeiro produto da fabricante que lhe vem a mente? Seria o Windows? É isso mesmo? Imagino que sim, pois trata-se da resposta mais óbvia (até porque, muito possivelmente, você está lendo esse texto em um computador rodando esse sistema operacional). Pois saiba que tal ferramenta representa cada vez menos na vida da empresa fundada por Bill Gates.
Um ótimo artigo publicado recentemente destrinchou os resultados recentes de grandes provedores de TI. E, a análise dos balanços financeiros submetidos a órgãos reguladores de mercado revelaram pontos interessantes sobre como a gigante de Redmond está fazendo dinheiro atualmente.
É razoável acreditar que o Windows responda por uma fatia enorme do faturamento da fabricante. De fato, durante muitos anos, o sistema operacional foi a “vaca leiteira” da Microsoft. Além disso, é importante considerar que, recentemente, a companhia lançou uma nova versão da ferramenta – tecnologia que trouxe diversos avanços frente ao seu antecessor.
Porém, precisamos ressaltar, que muitas constatações em torno do sistema operacional são equivocadas. Para deixar claro, os balanços contábeis revelam que o maior gerador de receitas da provedora no último trimestre fiscal de 2015 veio das divisões de cloud e servidores.
Com base nessa informação, talvez você pense: “O Windows, então, deve ser o número dois dessa lista, certo?”. Não! Por incrível que pareça, há mais Xboxes no mundo do que se possa imaginar – e não esqueça que cada venda do console puxa consigo também uma divisão forte de games.
Obviamente, portanto, o sistema operacional é a terceira maior fonte de receita da companhia… não, espera… Essa também não é uma verdade! Atrás de cloud e servidores e de videogames, vem os negócios de Office.
Pois é amigos, o Windows ocupa apenas a quarta posição, com 10% do faturamento analisado no artigo, em relevância nas receitas recentes da Microsoft.
O que está acontecendo?
Bem, se olharemos com certa cautela, a queda no desempenho financeiro do sistema operacional nos resultados da Microsoft não tem vínculo com as escorregadas que a companhia deu com o Vista ou com o Windows 8.x ou sequer decorreu de um acirramento da competição contra Linux ou Mac.
De fato, o Windows continua sendo o sistema operacional de desktop mais popular do mundo. Contudo, é justamente esse o grande ponto. Pouco a pouco, o desktop se torna menos relevante. Talvez os tablets não tenham matado os PCs, mas desencadearam um abalo nesse nicho. Porém, é nos smartphones que o calo aperta.
A certeza é que os computadores de mesa e mais robustos dificilmente morrerão, até porque, muitas pessoas ainda precisarão de teclados para realizarem suas tarefas. Agora, para outras atividades, um dispositivo móvel compacto resolve (e muito bem) sua necessidade computacional básica. E a Microsoft sabe disso.
Por um longo tempo a empresa tentou – e falhou – disputar esse nicho de mercado a partir do Windows Phone. Chegou a ser desesperador ver os esforços da companhia no mundo móvel, até porque ela sabia que era onde a próxima batalha (que estamos vivenciando agora) seria decidida. A provedora lutou o quanto pode, até entregar as armas em meados de 2015.
Finalmente, os rapazes de Redmond assumiram que chegava a hora de abraçar o Android e iOS. Recentemente, em linha com essa visão, a companhia comprou a Xamarin, que fornece ferramentas que permite portar apps das plataformas Google e Apple para Windows.
Mas essa foi apenas uma medida extra. Internamente, a companhia estaria trabalhando para ajustar suas aplicações de negócio para essas novas plataformas. Nesse sentido, por exemplo, se esforça para adequar a suíte Office para Android, por exemplo.
O mundo em nuvem
Aí você pode se perguntar: que relação isso tem com o declínio do Windows? Tudo! A plataforma de colaboração e produtividade deixou para trás as fronteiras do desktop e se transformou em uma ferramenta em nuvem. E o fato de a divisão de servidores e cloud ser a maior fonte de lucro? Isso ocorreu puxado por serviços no Azure, não por vendas de licenças do Server 2012.
Veja, a Microsoft vai bem no caminho de se transformar um provedor de cloud computing, deixando para trás o ambiente de desktops. A ideia é que a empresa consiga, no mundo da computação em nuvem o mesmo sucesso que obteve na era do Windows rodando em PCs.
O faturamento da empresa caiu 5% no último trimestre enquanto os negócios de cloud tiveram aumento de 5% nas receitas. As vendas de Azure cresceram expressivos 140% no comparativo anual, o que fez o CEO, Satya Nadella, disparar: “As oportunidades trazidas por cloud são massivas. Trata-se de um mercado maior do que qualquer outro que já disputamos”.
Sim, você ouviu bem. A computação em nuvem é encarada pela provedora como algo extremamente maior do que já foi o Windows. O conceito marca uma transformação de todo o mercado de tecnologia da informação (e não apenas da Microsoft). O PC deixou de ser o centro da computação pessoal e será preciso lidar com isso.