CIOs têm a grande oportunidade de catalisar, liderar e influenciar a mobilidade

O primeiro passo é mudar os atuais modelos de gestão e governança de TI, criados para o mundo PC

Há poucos dias tive um almoço muito legal com um empreendedor que está criando uma empresa voltada ao desenvolvimento de aplicativos móveis. A conversa então girou sobre o potencial deste mercado e as oportunidades de negócio que ele teria pela frente. Os smartphones e tablets já fazem parte do nosso dia a dia e estão rapidamente se integrando a todas as atividades humanas. Estes aparelhos estão cada vez mais sofisticados e embutem diversos dispositivos que permitem conexão de banda larga, sensores e funcionalidade de geolocalização, entre outras funções, que nos abre inúmeras oportunidades de exploração.

O desafio para a área de TI é que estes aparelhos estão entrando nas empresas por todos os lados. Impedir seu uso é impossivel, mas é necessário criar procedimentos que garantam a segurança e privacidade dos dados considerados criticos para o negócio. Sim, é um belo desafio. Os modelos tradicionais de controle e homologação não são mais adequados ao mundo dos smartphones. Não é simples separar o lado profissional do pessoal.

A área de TI tem que começar colocar em prática novos métodos de gestão, adotando tecnologias específicas de MDM (Mobile Device Management), que permitam obter um nível de gerenciamento adequado aos seus requerimentos de governança, muitos deles forçados pelo compliance a regulações a que estão sujeitas. Outra alternativa a ser considerada é o uso de virtualização nos próprios smartphones, criando ambientes separados (pessoal e profissional) no mesmo dispositivo. Existem algumas alternativas despontando no mercado como a MVP (Mobile Virtualization Platform), da VMWare, e o conceito de hypervisor, adotado pela Open Kernel Labs.

Além isso, o mundo dos smartphones e tablets abre oportunidades de interação que não existiam nos laptops e PCs. Nestes, a interação era basicamente o consumo e a criação de conteúdo, que requer apenas um interface simples, como tela e mouse/teclado. Com recursos como GPS, câmeras fotográficas/vídeo e novas interfaces como voz, gestos e outros, o engajamento e interação dos usuários com os aplicativos torna-se muito mais abrangente. Um exemplo simples: você interage de forma totalmente diferente com um game através do Kinect ou Wii, se comparado apenas com o uso dos teclados e do mouse. Neles você imerge no próprio jogo. Com as novas interfaces dos smartphones será a mesma coisa. O nível de engajamento será diferente do simples ouvir, falar e teclar.

Temos aí outro desafio para a área de TI. Os seus aplicativos deverão ter sua camada de interface redesenhada para explorar as características dos smartphones e tablets. Hoje foram desenhados para explorar o paradigma da interface via teclado e mouse. Não tem interfaces intuitivas como os aplicativos dos smarthones, e isso vai demandar um bom trabalho de redesenho.

Provavelmente veremos HTML5 começando a dar sinais de vida nos aplicativos corporativos! Veremos também a área de TI escrevendo novos aplicativos, voltados para explorar as funcionalidades intrínsecas dos smartphones, como localização geográfica, acelerômetros, compassos, sensores de proximidade, câmeras fotográficas, etc. Estes aplicativos deverão explorar o fato dos usuários estarem com seus smartphones em locais e situações que não estariam com seus PCs e laptops, e ao mesmo tempo eles querem que sua experiência de uso seja similar a que já estão acostumados a ter nestes dispositivos.

Os CIOs não podem esperar o mundo dos smartphones chegar. Ele já chegou. No mundo do PCs ele tinha o controle da situação. Hoje, os usuários podem acessar dados e aplicativos de nuvens, sem passar pela área de TI. Podem baixar aplicativos e os usarem em lugar de aplicativos oficiais. E manter os dados em nuvens como o DropBox. O que os CIOs devem fazer? Não lutar contra. Mas engajar-se ativamente e fazer com que a área de TI seja a influenciadora deste mundo wireless. O usuário tem em suas mãos um supercomputador dos anos 80, e impedir seu uso seria um contrasenso. Apoiar e influenciar a adoção de melhores práticas para seu uso é uma estratégia vencedora.

Nessa linha, a conversa  com o empreendedor gerou algumas conclusões interessantes, que compartilho aqui:

a) TI não poderá desenvolver tudo sozinha. Deixe os usuários desenvolverem e escolherem seus aplicativos, mas exerça influência sobre o processo. Crie iniciativas de “P&D” interno, apoiando os usuários a criarem suas próprias soluções e interfaceando estas soluções via APIs seguras (estas desenvolvidas por TI) aos sistemas corporativos;

b) Adote práticas, métodos e tecnologias que permitam implementar a politica de BYOD (Bring Your Own Device) na empresa. Uma sugestão é começar ao poucos, liberando a política primeiro a alguns setores e, depois, aos demais. É um aprendizado que só vai se dar na prática. Não existe nenhum manual que oriente como fazer isso com sucesso;

c) Não seja pessimista e nem otimista ao extremo. Provavelmente, durante muito tempo, existirão PCs, laptops, smartphones e tablets. Alguns funcionários deixarão de usar laptops e PCs, mas outros continuarão a usá-los. Uma estratégia de adoção e disseminação da mobilidade e estudos de payback ajudará na tomada de decisão. Não esqueça que um uso descontrolado de redes 3G poderá aumentar, em muito, os custos operacionais;

d) Mude o modelo de gestão e governança de TI. Os modelos atuais foram criados para o mundo PC. Modelos como o BYOD e a heterogeneidade de dispositivos vai demandar novas práticas e processos. Uma sugestão seria adotar um processo evolutivo, ajustando e aperfeiçoando as práticas à medida que mais experiências forem sendo adquiridas, tanto pelos usuários como pela própria área de TI;

e) Não ignore a necessidade de novos skills e tecnologias. Os seus desenvolvedores têm fluência em HTML5, Android e iOS? Existem tecnologias de MDM na organização? A sua equipe de segurança está devidamente preparada para este novo mundo?

Portanto, os CIOs têm a grande oportunidade de catalisar, liderar e influenciar este mundo dos smartphones e tablets. Mas, o trem já está deixando a estação. Não podem apenas ficar olhando… Neste caso, outros liderarão o processo.

(*) Cezar Taurion é diretor de novas tecnologias aplicadas da IBM Brasil e editor do primeiro blog da América Latina do Portal de Tecnologia IBM DeveloperWorks

Fonte: CIO