Onde está a inovação no Brasil? Nas consultorias? Nas agências? Ou na sua empresa?

Aziz Camali *
publicada na newsletter CIO/Computerworld em 11/março/2015

Genericamente o mundo da criatividade e inovação no Brasil é dividido em dois grandes universos: o das consultorias e o das agências. Um grande bloco é responsável por entender e pensar a partir de problemas, tangibilizando o resultado final em um entregável que pode ser uma apresentação em Keynote, uma documentação bacanuda impressa ou um vídeo inspiracional. Já o outro bloco, o das agências, segue o briefing com o que o cliente já entendeu, pensou e acredita ser o que ele precisa, seja sozinho ou com a ajuda de alguma consultoria.

Essa “cisão” clara é decorrente dos formatos de negócios baseados em rentabilidade e não necessariamente no potencial dos resultados gerados. Os homens de negócio a frente dos seus respectivos modelos especializados garantem a linha de produção com estruturas pequenas ou gigantescas a partir de definições claras de papéis e departamentos. Pega o briefing, atendimento enrola melhor, planejamento pensa e a dupla executa. Mas e a inovação? Onde fica?

Enquanto a criatividade no Brasil for associada a agências que são representadas por uma dupla de criação, um planner e um atendimento, ou então por um departamento de inovação cheio de post its perdidos no meio de uma “firma” querendo competir e valorizar quem trouxe o resultado, os números, notícias e reports esse tipo de artigo rebelde vai continuar não fazendo muito sentido, e voltaremos a comprar Meio Mensagem e assinar relatórios do trendwatching para se acomodar e compartilhar no Facebook.

Mas se por acaso você quer ser parte dessa mudança e esta contribuindo para que problemas econômicos, sociais e ambientais sejam vistos de forma integrada e sim quer mudar o mundo a partir da oportunidade de impacto baseado principalmente em profundidade de transformação, é preciso mudança! Abaixo listo 5 etapas de um processo de inovação para seu negócio.

1. Se tem a sua Startup desenhada no Canvas ou valendo através de um protótipo ou MVP (minimum value product), esqueça de sonhar com a capa da Pequenas Empresas ou a validação de um grande gerente de investidor em um banca de aceleração. É preciso criar algo que tenha um valor real para contribuição na vida das pessoas, jogar fora todas as pesquisas e números que servem para “embasar” o seu Pitch e vá para rua testar e aprender com os usuários adeptos e resistentes. Busque a solução real do problema, empreender significa amor e não dinheiro, se a jornada e evolução do negócio não começar direito, a probabilidade de dar certo é mais baixa. Além disso se por acaso sua namorada busca estabilidade e infelizmente “brincar” de empreender esta saindo caro, entenda que a vida pessoal e profissional nesse caso devem se dar muito bem para o sucesso.

2. Já sei que o ambiente corporativo que você trabalha é agressivo e o impacto de um erro, além de caro gera demissões. Em contra partida terceirizar a inovação dificulta a implementação e principalmente o engajamento de quem não participa. A maioria das organizações tenta reduzir a probabilidade das falhas, o que as leva a fazer escolhas mais seguras, sistematicamente impedindo com que sejam inovadoras.

3. Se é empreendedor e a desculpa verdadeira de que não tem tempo para pensar em outra coisa a não ser fazer o negócio acontecer, é o que pode adiar mas não evitar, o fracasso futuro. Empreender hoje no Brasil com as dificuldades micro macro econômicas e sociais já realidade. Ao invés de reclamar no elevador e torcer para que o telefone toque com um cliente novo, peça ajuda para exercitar o que na meditação chamam de Eu Observador e olhar de fora os problemas. A visão sistêmica trás a importância de não focar apenas aonde vem o dinheiro, vital é para a sobrevivência de mercados tão canibais e baseados em modelos comerciais de promoções e soluções incrementais. Além disso em mercados de muita concorrência inovar pode ser mais fácil do que em algo que não ainda existe, mas lembre-se de que não é porque é mais fácil que vai ser melhor e dar mais resultado.

4. Se trabalha em um ambiente arquitetonicamente criativo, mas que no fundo corre atrás do rabo, as vezes pode ser interessante ao invés de julgar os sócios e donos, trazer um novo olhar. Nem sempre as mudanças vem de cima para baixo, a inércia e a zona de conforto da rotina sistematizada pelo salario igual e fixo que entra todo mês, pode ser quebrada pela visão de quem esta na operação e trás um novo olhar que também pode ser estratégico. Inovar não depende de rotulo, curso, qualificação e muito menos posição corporativa. Basta querer e mobilizar agentes transformadores e contribuir para a mudança. Se não deu certo, troca, mesmo se a vaga não estiver aberta, todo dono de negócio procura alguém pró ativo e com visão de intraempreendedor

5. Se não sabe por onde começar e não se encaixa em nada explorado nos pontos acima, olha pra dentro. Ou melhor, sente o que faz parte de todas as coisas que fazem seu coração bater mais forte e começa experimentando a partir das oportunidades que estão no presente e viva intensamente todos os momentos que seu agora podem te proporcionar. Piscou, passou.

A verdadeira inovação vem do aprendizado pratico estimulado pela visão sistêmica do universo do problema e a vontade de querer fazer algo que tenha real significado para você antes do outro.

 (*) Aziz Camali é sócio fundador da DZN, Empresa de sensibilidade e inovação aplicada a negócios e pessoas