Entre o Android e a Maçã

Será que todo mundo vai querer reformar seus sites só para se tornar acessível aos usuários de iPhones e iPads?

Em primeiro lugar, há que se considerar que o mercado de computadores já atingiu um ponto de saturação nas economias mais desenvolvidas (quem quer um já tem), mas continua sendo um item razoavelmente caro nos países emergentes. Os aparelhos de celular, por outro lado, são mais acessíveis. Eles estão disponíveis em vários modelos em diferentes faixas de preço e são oferecidos por várias operadoras, que seduzem seus potenciais clientes com ofertas atrativas e amplos financiamentos. Embora os smartphones não sejam exatamente “baratos”, é possível adquiri-los em parcelas cada vez mais suaves, e a tendência é que o preço caia rapidamente.

Outra clara vantagem do aparelho celular é sua ubiquidade. Ele está o tempo todo com o usuário e sempre conectado na rede, o que é um importante diferencial em relação aos computadores, sobretudo os desktops. A grande questão, no que se refere aos smartphones, diz respeito às plataformas de aplicação: qual delas será capaz de se universalizar de forma semelhante à do Windows, que se popularizou entre os usuários de PCs do mundo todo? Vale ressaltar que a transposição do próprio Windows para o formato mobile não correspondeu às expectativas do público. Muito eficiente em computadores, ele não se mostrou tão interessante quando operado via celular.

A Microsoft, a RIM – responsável pela plataforma do Blackberry, que mantém a liderança no meio corporativo -, a Palm e a Nokia também não conseguiram oferecer uma solução definitiva – no sentido de uma linguagem que se universalizasse e fosse capaz de atrair uma massa significativa de desenvolvedores. A grande novidade veio com o iPhone, da Apple. Nos Estados Unidos, maior mercado consumidor do mundo, a marca de Steve Jobs foi a que mais se aproximou, até o momento, da formação de uma significativa massa crítica de desenvolvedores.

É certo que o aparelho não se popularizou o suficiente no mundo corporativo. E há fatores que limitam o potencial de universalização da plataforma do iPhone:

– um deles é que a Apple cobra pelo kit de desenvolvimento e controla o acesso ao iTunes Application Store;

– o segundo é que o desenvolvedor é obrigado a submeter suas criações à aprovação da própria Apple, cujos critérios para aprovação são bastante nebulosos;

– o terceiro diz respeito ao fato do iPhone ser disponibilizado, nos EUA, por uma só operadora (a AT&T);

 – e, finalmente, temos o fato da Apple se recusar insistentemente a incorporar o player do Adobe Flash nos seus dispositivos.

Será que todo mundo vai querer reformar seus sites só para se tornar acessível aos usuários de iPhones e iPads? Esta é uma boa pergunta, que o mercado ainda não respondeu. Neste cenário, quem desponta como uma promessa de universalização e acesso ao livre desenvolvimento é o Android. Ele entra no mercado mundial pelas mãos de vários fabricantes e diferentes operadoras, e embora não tenha a excelência do iPhone em termos de user experience, traz uma perspectiva muito interessante no espaço das plataformas móveis de aplicação. O ponto principal é que ele não está submetido ao controle de uma só empresa, mas de um pool de empresas capitaneadas pelo Google.

Temos, portanto, o iPhone, com sua plataforma melhor acabada, mas com restrições, e o Android, em constante aprimoramento e com uma irresistível promessa de liberdade. Quem vencerá essa luta, que em tantos aspectos se parece com o embate travado, duas décadas atrás, entre Macintosh e PC – e que foi vencida pelo PC justamente por ser uma plataforma que permite instalar novas aplicações de forma fácil e rápida? É cedo para arriscar prognósticos, mas uma coisa é certa: a empresa que conhece a importância de atingir seu público em todos os meios e lugares tem que estar atenta aos rumos dessa disputa.

Rodrigo Gonzalez (Gerente sênior da BDO, empresa especializada em auditoria, tributos e advisory services)

HSM Online
25/06/2010