A verdadeira oportunidade para o BI na nuvem está no modelo PaaS

Muitos ainda não distinguem entre BI no modelo SaaS, BI para SaaS e BI para PaaS. De um modo geral é tudo “posto no mesmo saco” como “BI na nuvem”

Muitos sentiram que 2011 foi o ano em que a computação em nuvem realmente chegou ao grande público. A Inteligência Empresarial (Business Intelligence ou BI) tem estado naturalmente no “radar” de muitas empresas desde há muitos anos. Contudo, nos últimos meses tivemos a oportunidade de ver um crescente número de artigos e publicações sobre a associação do BI com a nuvem. A pergunta que se coloca é se a interseção destas duas tendências, duas das mais importantes no âmbito da TI, será uma combinação vencedora. Para mim, a resposta é, em simultâneo, “sim e já”.

Um dos aspectos essenciais do BI é que pode satisfazer tanto o usuário empresarial como o programador, podendo ser considerada quer uma ferramenta, quer uma aplicação. Ocupa uma posição única no universo do software empresarial, acima da base de dados e camadas de middleware, mas abaixo da camada de aplicação. É esta posição que leva à confusão em torno da diferenciação entre BI no modelo SaaS (Software-as-a-Service) versus BI no modelo PaaS (Platform-as-a-Service). Infelizmente a sua identificação simplificada como “BI na nuvem” passou a fazer parte do vernáculo, mas esta não é a abordagem correta. Para determinar as duas, comecemos pela BI como SaaS e o usuário empresarial.

Considerando a Salesforce, a NetSuite e a SuccessFactors, é justo dizer que o modelo SaaS foi um sucesso entre os usuários empresariais. As vantagens do SaaS, comparadas às aplicações no local/instalações são bastante óbvias: o tempo para avaliar é mais rápido, a experiência do usuário final simples é superior e é necessária pouca ou nenhuma formação.

No entanto, esta simplicidade acaba por criar problemas para o BI no modelo SaaS. A inteligência empresarial não é uma aplicação simples “pronta-para-usar”, mas sim um conjunto de ferramentas a personalizar para auxiliar a resolver uma grande variedade de problemas da atividade de negócio. Atualmente, o BI no modelo SaaS está sendo utilizado por adotantes precoces que possuem as competências técnicas necessárias e um problema empresarial apropriado que tornam o consumo baseado em nuvem numa alternativa melhor. Estes indivíduos valorizam os custos de adoção muito baixos de uma opção de nuvem (ou seja, nenhuma instalação de software ou infraestrutura necessárias). O resultado é que o BI no modelo SaaS tem uma audiência limitada.

Estas limitações estão tornando-se evidentes. De fato, o Gartner comentou em relação ao BI no modelo SaaS que “as ofertas em nuvem irão prefazer apenas três por cento das receitas de inteligência empresarial (BI) em 2013, dado que a adoção por parte dos usuários irá ficar muito aquém das expetativas dos vendedores”.

É verdade que poderá ficar aquém das expetativas de muitos vendedores. Contudo, não penso que este venha a ser o caso para os mais inteligentes.

Acredito que veremos emergir um mercado razoável para BI no modelo SaaS, mas não necessariamente de forma rápida ou convincente. No entanto, penso que ainda irá amadurecer, pois será crescentemente fornecido sob a forma de aplicações analíticas; ou seja, BI construído em uma aplicação SaaS que resolve algum problema empresarial específico para um usuário final que já compreende os benefícios do modelo SaaS. Na realidade, deveríamos referir-nos a ele como BI para SaaS (em vez de BI no modelo SaaS) e existem exemplos bem sucedidos destas aplicações analíticas sob muitas formas, tal como analítica de rede.

Muitos ainda não distinguem entre BI no modelo SaaS, BI para SaaS e BI para PaaS. De um modo geral é tudo “posto no mesmo saco” como “BI na nuvem”, quando quase sempre significa BI no modelo SaaS. Esta simplificação contribui ainda mais para a confusão. Para tornar estas definições perfeitamente claras, eis aqui um resumo:

– BI de SaaS = “hosting” de uma plataforma ou aplicação de BI na nuvem, fornecendo funcionalidade a pedido do usuário empresarial.

– BI para SaaS = desenvolvimento de funcionalidade de BI em uma aplicação baseada em SaaS com o objetivo de fornecer uma funcionalidade de dados específica no seio dessa aplicação.

– BI para PaaS = fornecimento de um serviço de relatório e análise que pode ser facilmente construído em aplicações baseadas em PaaS e gerido pela PaaS.

Apesar da evolução gradual da BI para SaaS, a verdadeira oportunidade para a BI de nuvem reside no modelo de Plataforma-como-Serviço. É também a mais negligenciada. Porquê? PaaS trará para os programadores de software o que o SaaS trouxe para os usuários empresariais, criando mais agilidade, reduzindo custos de infraestrutura e adoção e proporcionando um retorno mais rápido através de (entre outras coisas) uma melhor experiência do usuário.

O BI para PaaS é um conjunto de componentes de BI moderna, construído a partir de padrões puramente baseados na Internet e abertos. Está disponível como um conjunto de tecnologias de relatório e analítica que permitem a um programador criar rapidamente uma aplicação moderna “orientada para dados” e utilizá-la e geri-la então na nuvem. Estes blocos de construção estão rapidamente a formar os alicerces das plataformas de desenvolvimento baseadas na nuvem e os principais intervenientes em PaaS estão agora a reconhecê-lo.

Recentemente, a Red Hat e a VMware tomaram medidas para assegurar que os seus serviços de relatório e análise estarão disponíveis nos seus ambientes OpenShift e CloudFoundry (respectivamente). A Heroku (Salesforce) e o Google App também incorporaram pelo menos serviços básicos de relatório e gráficos nas suas plataformas PaaS.

Pessoalmente, acredito que a funcionalidade de BI irá continuar a seguir o seu caminho para estes ecossistemas de desenvolvimento de software da próxima geração. O progresso da BI na nuvem chegará mais rapidamente sob a forma de aplicações de BI para SaaS (analítica) e BI para PaaS, ambas ajudando a evitar os perigos latentes da sua contrapartida genérica BI no modelo SaaS.

(*) Brian Gentile é CEO da Jaspersoft.

Fonte: CIO